sexta-feira, 10 de junho de 2011

Gênio da Guitarra

Chicago Blues Festival começa hoje com homenagem ao centenário de Robert Johnson

Plantão | Publicada em 10/06/2011 às 15h26m
Marcelo Monteiro, especial para O GLOBO
RIO - Keith Richards demorou a acreditar que apenas um guitarrista tocava na versão original do clássico do blues 'Sweet Home Chicago'. Eric Clapton fez um disco inteiro com suas músicas. Até entre estrelas da nova geração ele continua em alta: John Mayer foi indicado ao Grammy por sua versão de 'Crossroads' e o White Stripes gravou 'Stop Breaking Down' em seu disco de estreia. Isso sem falar em Led Zeppelin, Bob Dylan, Red Hot Chilli Peppers, todos fãs assumidos de Robert Johnson, grande homenageado do Chicago Blues Festival que começa hoje, nos EUA, com um show tributo celebrando seus 100 anos de nascimento.

"Ele realmente tinha uma forma de tocar completamente diferente e muitas de suas músicas viraram clássicos", diz o neto Steven Johnson, filho do único descendente direto do guitarrista que sobe hoje ao palco para falar sobre os muitos mitos que cercam a vida do avô e sua importância na história da música.

Entre os convidados para o show tributo à noite em Chicago estão David Honeyboy Edwards, de 95 anos, ganhador de um Grammy por sua obra no blues e amigo pessoal de Robert Johnson. Honeyboy, inclusive, conta que estava ao seu lado na noite em que Johnson foi envenenado por um dono de bar que descobriu que ele tinha um caso com sua mulher.

Além das músicas, uma história que fez a fama de Robert Johnson e até inspirou um filme, "Crossroads", de 1986, com Ralph Macchio, é a de que ele teria vendido sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 49 e 61 (o local hoje é identificado com uma placa).

"Isso não passa de um mito", garante o neto Steven, que além de guitarrista e diretor da Fundação Robert Johnson, é também pastor em uma igreja no Mississipi. "A história do cemitério sim é verdade, ele costumava praticar com Ike Zimmerman em frente à sua casa, mas era por causa do silêncio".

Gaita foi o primeiro instrumento

Robert Johnson começou na música nos anos 1920 no Delta do Mississipi tocando gaita e quando decidiu mudar para guitarra não empolgou. Foi só quando voltou para sua cidade natal, Hazelhurst, em busca do pai, que a carreira deu uma virada. Lá, Johnson passou a ensaiar com Ike Zimmerman, músico que trocou o blues pela vida religiosa ainda nos anos 60.

Na volta para Robinsonville, no Delta, seus solos e composições impressionaram até guitarristas consagrados na época. A história da encruzilhada teria sido criada pelo mito Son House, um dos grandes nomes da primeira geração do blues. Para ele, Johnson só poderia ter melhorado tanto em tão pouco tempo se tivesse vendido sua alma ao diabo. A história correu bares e shows, ele não negou e o mito foi só crescendo.

Recorde e Grammy nos anos 90
 
Robert Johnson gravou em toda carreira apenas 29 músicas em duas sessões, em 1936 e 1937, ambas em estúdios improvisados. A primeira coletânea lançada por uma grande gravadora, 'King of the Delta Blues Singers', veio só em 1961 pela Columbia. O segundo volume, já nos anos 70, incluía versões de guitarristas ingleses como Eric Clapton. Em 1990, a Sony esperava vender 20 mil cópias com uma nova coletânea. O álbum superou todas as expectativas, bateu recorde para um disco de blues passando a marca de um milhão de cópias e ainda levou o Grammy.

O último grande lançamento com músicas de Robert Johnson foi agora em abril como parte das comemorações dos seus 100 anos. A Sony lançou "The Complete Original Masters - Centennial Edition", que inclui 12 discos de vinil réplicas dos singles lançados na época e um documentário apresentado pelo ator Danny Glover com Keb'Mo no papel principal.

Robert Johnson se casou duas vezes. Sua primeira mulher morreu em trabalho de parto e a segunda é a avó de Steven. Considerado o quinto maior guitarrista de todos os tempos em eleição da Revista Rolling Stone, ele morreu com apenas 27 anos por complicações após um envenenamento no bar junto com Honeyboy Edwards.

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